Intitulada Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática, a 36ª edição da Bienal de São Paulo se inspira no enigmático poema Da calma e do silêncio, da poeta afro-brasileira Conceição Evaristo. Com curadoria do camaronês Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, a proposta central desta edição é pensar a “humanidade” não como algo fixo ou dado, mas como algo que se pratica: uma forma de viver e de se relacionar com os outros. Os curadores recorrem à imagem de um estuário, o lugar onde diferentes rios se encontram e se misturam, como símbolo. Assim como um estuário funde águas distintas, a história do Brasil é marcada por encontros diversos.
A Bienal sugere que a verdadeira humanidade acontece quando ouvimos com atenção e buscamos formas de coexistir, mesmo vindo de lugares ou perspectivas muito diferentes. A mostra é gratuita, traz obras de 125 artistas e coletivos e fica aberta até janeiro de 2026.
Dois artistas de destaque participam da Bienal com apoio do British Council. Sir Frank Bowling, nascido na Guiana Britânica, é o primeiro artista negro eleito para a Royal Academy of Arts e vai apresentar, em todos os pavimentos do prédio, pinturas que representam momentos importantes da sua trajetória pessoal e artística. Akinbode Akinbiyi, fotógrafo britânico de origem nigeriana, foi selecionado por meio do programa Biennials Connect para fazer uma residência artística de seis semanas em São Paulo no início de 2025. Seus registros poéticos em preto e branco de cenas da vida urbana são exibidos em formato gigante na mostra.
Sir Frank Bowling
Nascido na Guiana Britânica em 1934, Sir Frank Bowling é uma figura central na arte britânica do pós-guerra e o primeiro artista negro eleito para a Royal Academy of Arts. Sua carreira, que já ultrapassa seis décadas, é marcada por uma reinvenção constante da pintura abstrata, com obras de grande escala, experimentações materiais e um envolvimento profundo com a cor. Desde suas icônicas “Map Paintings” dos anos 1960–70 até as superfícies táteis, vertidas e coladas de seus trabalhos mais recentes, Bowling trata a tela como paisagem e como arquivo. Sua arte incorpora géis, pigmentos metálicos, tecidos e objetos encontrados, negociando memória, processo e poética. Sua participação na 36ª Bienal de São Paulo com oito pinturas reflete momentos-chave de sua história pessoal e evolução artística. Essas obras reafirmam a relevância poética e teórica duradoura dos artistas negros no pós-modernismo e seu papel essencial na reconstrução da narrativa global da arte.
Akinbode Akinbiyi
Akinbode Akinbiyi é um fotógrafo britânico de ascendência nigeriana, nascido em Oxford em 1946 e radicado em Berlim desde os anos 1990. Criado entre a Inglaterra e Lagos, tornou-se fotógrafo autodidata em 1972 e é reconhecido por documentar megacidades africanas como Lagos, Cairo, Kinshasa e Dacar. Sua obra captura a vida cotidiana por meio de imagens poéticas em preto e branco que refletem a complexidade urbana, a história colonial e os rituais humanos. Utilizando uma câmera Rolleiflex, Akinbiyi adota uma abordagem lenta e reflexiva, focando em detalhes despercebidos e no tecido social das cidades. Sua fotografia já foi exibida em mostras importantes como a Documenta 14 e o New Photography 2023 do MoMA. Para a 36ª Bienal de São Paulo, Akinbiyi realizou uma residência artística de seis semanas no início de 2025, criando um novo conjunto de obras centrado na vida urbana paulistana. Explorou a Casa do Povo e o bairro do Bom Retiro, destacando sua diversidade cultural e histórias de imigração. Seu projeto enfatiza as conexões humanas e as dinâmicas de coexistência e resistência.
A participação de Akinbiyi na Bienal é apoiada pelo British Council por meio do programa Biennials Connect Grant.