As áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, na sigla em inglês) têm o potencial de mudar o mundo, mas para isso, é necessária a presença de diversidade e inclusão na sociedade.
A inclusão de mulheres, especialmente aquelas com deficiência, é um passo crucial para que essas áreas sejam verdadeiramente inovadoras e acessíveis. Quando promovemos a participação de pessoas historicamente excluídas, abrimos portas para soluções criativas e impactantes.
Embora muitas mulheres com deficiência enfrentem barreiras significativas no acesso à educação de qualidade e no mundo do trabalho, histórias como a da cientista Vanessa Romanelli mostram que esses obstáculos podem ser superados. Porém, a luta por inclusão não é responsabilidade apenas das pessoas diretamente afetadas. Profissionais como Priscyla Gonçalves e Ana Carolina Oliveira, demonstram que qualquer pessoa, com ou sem uma deficiência, pode contribuir para um futuro mais inclusivo.
Neste artigo, abordamos como a diversidade e inclusão nas áreas STEM de mulheres com deficiência está gerando transformações profundas, destacamos histórias inspiradoras e discutimos o papel de cada um de nós na construção de um mundo mais diverso e equitativo. Continue lendo para conhecer iniciativas que mudam vidas e moldam o futuro.
Diversidade e inclusão: entenda a diferença
Muitas vezes usadas como sinônimos, diversidade e inclusão (D&I) são conceitos distintos. Uma frase de Vernā Myers, vice-presidente de inclusão da Netflix, explica bem. O que é diversidade e o que é inclusão “Diversidade é convidar para a festa, inclusão é chamar para dançar”. Em outras palavras, ter um ambiente diverso não significa que ele seja, de fato, inclusivo.
Para Veronica Van Heyningen, geneticista inglesa, a flexibilidade e o reconhecimento das trajetórias individuais são essenciais: “A diversidade tem que ser diversa, com maneiras diferentes de se chegar a um ponto final” refletiu em entrevista para a 2ª edição da Revista Mulheres na Ciência. Além de uma questão ética, promover D&I fortalece o desenvolvimento, a sustentabilidade e a competitividade econômica.
O relatório Delivering Through Diversity, da McKinsey & Company, mostrou que empresas com maior representatividade têm 33% mais probabilidade de serem rentáveis. No entanto, a realidade das pessoas com deficiência ainda é desafiadora. De fato, falta inclusão no mercado de trabalho brasileiro.
Um estudo realizado pelo IBGE, que faz parte da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), concluiu que 26,6% das pessoas com deficiência encontram espaço no mercado de trabalho, enquanto o nível de ocupação para a população sem deficiência é de 60,7%. A desigualdade persiste mesmo entre as pessoas com nível superior: nesse caso, a participação foi de 54,7% para pessoas com deficiência e 84,2% para as sem deficiência. O rendimento médio real também é diferente entre as pessoas desses dois grupos: para o primeiro a renda foi de R$1.860, enquanto o segundo chegou a R$2.690, uma diferença de 30%.
Histórias que inspiram: mulheres em STEM
As mulheres estão avançando para se tornarem maioria entre os estudantes, mas permanecem como minoria na ciência. De acordo com a UNESCO, apenas 30% dos cientistas no mundo são mulheres, e, entre elas, 1 em cada 3 possui algum tipo de deficiência.
A falta de referências femininas é tida como um dos motivos que desencorajam meninas, ainda por volta de 6 anos de idade, a escolherem uma das áreas STEM. De acordo com uma pesquisa lançada em 2023, pela plataforma educativa Força Meninas, 57,1% das crianças dizem não conhecer nenhuma mulher que trabalha nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática. Por isso, resolvemos contar a história de três mulheres na ciência que estão tornando o mundo mais acessível.
Revolução no diagnóstico de doenças raras
Diagnosticada com Atrofia Muscular Espinhal (AME-5q), Vanessa Romanelli desafiou preconceitos para se tornar doutora em genética pela Universidade de São Paulo. Hoje, coordena o projeto de triagem neonatal para AME-5q em São Paulo, impactando mais de 110 mil bebês. “Eu ouvi muitas vezes que eu não podia ser cientista porque era cadeirante”, revela.
Tecnologia inclusiva nos museus
A web designer Priscyla Gonçalves Ferreira Barbosa aguçou os seus sentidos para uma demanda trazida pela coordenadora do Museu da Geodiversidade, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A profissional desenvolveu um aplicativo que permite que pessoas surdas explorem museus de forma independente, usando realidade aumentada e libras. “O museu deve conversar com a sociedade. Essa tecnologia é uma forma de permitir isso”, conta Priscyla. Seu projeto foi destaque no programa Mulheres na Ciência e Inovação, do British Council em parceria com o Museu do Amanhã e fez parte da revista Mulheres na Ciência.
Inovação para velocistas cegos
Ana Carolina Oliveira Lima é pesquisadora nas áreas de engenharia elétrica e de computação há 17 anos, com foco no desenvolvimento de inovações tecnológicas em acessibilidade, mobilidade e engenharia biomédica. Frente ao Núcleo de Tecnologia Assistiva do Amazonas (Nuteam), na Universidade Federal do Amazonas, ela coordenou o desenvolvimento de uma tecnologia que permite a velocistas cegos correrem sem a ajuda do atleta-guia.
Ana Carolina, que também participou do programa Mulheres na Ciência e Inovação, afirma que um dos grandes desafios da inovação em acessibilidade passa pela necessidade de conscientização: “É preciso que todas as pessoas peçam por esses recursos para que haja um interesse maior, político e do mercado”, enfatizou a pesquisadora.
Diversidade em STEM: a aposta que dá certo
A diversidade e inclusão, é uma questão de justiça e uma necessidade para o progresso da sociedade. Nesse sentido, é crucial promover iniciativas que ampliem o acesso a oportunidades de desenvolvimento desde a base.
Segundo o relatório Getting to Equal 2019: Creating a culture that drives innovation, da Accenture, colaboradores de empresas inclusivas se sentem mais confortáveis para inovar, uma vez que possuem menos medo de errar. Complementando essa perspectiva, o estudo da McKinsey & Company citado anteriormente revelou que iniciativas de diversidade e inclusão no ambiente de trabalho (D&I) aumentam a lucratividade de um negócio em até 15%.
Por isso, o programa Mulheres na Ciência, lançado em 2018 pelo British Council, tem trabalhado para ampliar a presença e a representatividade das mulheres nas ciências por meio de diversas iniciativas. Entre elas está o “Garotas STEM: Formando futuras cientistas” que buscou impactar meninas, ainda em idade escolar, desconstruindo estereótipos e apresentando modelos inspiradores.
Outro destaque é o “Mulheres em Tech: Lideranças Inclusivas”, desenvolvido para fortalecer as habilidades interpessoais de mulheres e apoiar sua progressão profissional, seja como pesquisadoras ou empreendedoras.
O projeto dedicou atenção especial a grupos sub-representados, como mulheres negras, indígenas, LGBTQIAPN+ e com deficiência. Com um formato de curso on-line gratuito, composto por atividades síncronas e assíncronas, a iniciativa priorizou a acessibilidade, oferecendo todo o conteúdo em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).
Nesse sentido, é essencial reconhecer a importância da inclusão de pessoas com deficiência na sociedade e oferecer garantias para eles, visando um futuro mais prometedor para todos.
Investir na educação inclusiva e no potencial de mulheres com deficiência é um passo essencial para construir um futuro mais inclusivo e equitativo. Descubra mais sobre o programa Mulheres na Ciência e junte-se à transformação.